Darcy James Argue’s Secret Society (foto por Luis Godinho) |
Angra Jazz 2018
Leonel Santos A História do Jazz nos Açores tem vinte anos e foram feitos pelo AngraJazz. Apesar de alguns episódios fortuitos anteriores, e na sua maioria externos, nenhum deixou lastro, com excepção para o programa radiofónico de José Ribeiro Pinto (A forma do Jazz, 26 anos) que antecedeu o AngraJazz. E quando o fez, o AngraJazz fê-lo de forma acertada e sólida, como se torna evidente na constituição da Orquestra AngraJazz logo na sua quarta edição em 2002. Para a vigésima edição o AngraJazz acrescentou mais um dia ao festival, levando a ele nada menos de três orquestras, entre as quais a original Darcy James Argue Secret Society, numa programação que incluiu ainda Gonzalo Rubalcaba, Billy Childs, Andy Sheppard, Jazzmeia Horn, a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal e a menina dos olhos do AngraJazz, a sua orquestra. Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal - Orquestra AngraJazz Gonzalo Rubalcaba Trio Andy Sheppard Quartet Billy Childs Quartet Darcy James Argue’s Secret Society Camila Meza Jazz na Rua Os vinte anos do AngraJazz foram ainda o motivo para a exposição de fotografia repartida entre o Centro Cultural e a Biblioteca Luís da Silva Ribeiro. (Leonel Santos esteve no XX AngraJazz a convite do festival)
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Paulo Barbosa Com a sua 20ª edição, o festival Angrajazz deixa claro que o futuro lhe sorri. Continue a equipa que o organiza a revelar a mesma vontade, a mesma dedicação e a mesma capacidade de o fazer e as próximas 20 edições serão ainda melhores. E garantido é que o público do Angrajazz, sempre fiel e cada vez mais atento e exigente, continuará a acarinhá-lo e a aDarcy James certame. A abrir a série de sete concertos no palco principal do festival, a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal presenteou-nos com um belíssimo concerto dedicado à música de António Pinho Vargas. Interessantes (alguns fascinantes) arranjos por Luís Cunha (o maestro da orquestra), César Cardoso, Óscar Graça e Tomás Pimentel vieram desenterrar uma série de bonitas composições de Pinho Vargas, trazendo-as da melhor forma até aos nossos dias, com uma elegante modernidade presente apenas nas melhores big bands de hoje. Um dos aspetos mais distintivos deste festival reside no facto de a mesma associação que o programa e produz nutrir também a Orquestra Angrajazz, regida por Pedro Moreira e Claus Nymark, dois mais reconhecidos maestros e instrutores do jazz do nosso país. Acontece – e muito bem – que, a comemorar os 20 anos do festival, a orquestra lançou o seu segundo álbum, todo ele feito de peças encomendadas a vários dos mais ilustres músicos de jazz nacionais – Mário Laginha, Carlos Azevedo, Zé Eduardo, Nymark e Moreira – e ao espanhol Jesus Santandreu. A fechar a segunda noite do festival, Gonzalo Rubalcaba revelou um “touché” impressionante do princípio ao fim do seu concerto. Pressione uma ou dez teclas de cada vez, cada nota é ouvida exatamente com a intensidade e com as características tímbricas que o músico deseja, numa relação perfeita entre estímulo e efeito, a fazer lembrar Chick Corea (no seu melhor). Para a terceira noite do Angrajazz, dois concertos bastante contrastantes – sempre bom sinal em termos de programação – eram aguardados: o primeiro, a cargo do quarteto do saxofonista Andy Sheppard, mais bucólico e contemplativo; o segundo, pelo do pianista Billy Childs, mais enérgico, mais americano e mais “negro”. Mas o que seguramente não falta ao melhor jazz praticado do lado de lá do Atlântico é energia e determinação. E foi isso mesmo (e muito mais) que o quarteto de Billy Childs, com Steve Wilson nos saxofones, ??? ??? no contrabaixo e Christian Euman na bateria, nos ofereceu logo a começar o concerto, com “Rebirth”, tema com o qual, como se diz na gíria jazzística, “entrou logo a matar”. “Rebirth” é também o título do último álbum de Billy Childs, que o pianista veio a Angra apresentar e que entretanto conquistou um Grammy na categoria de melhor álbum de jazz instrumental. O primeiro concerto da quarta e última noite do Angrajazz foi um verdadeiro colosso. A orquestra de Darcy James Argue é, sem dúvida, e ao lado da de Maria Schneider ou da de John Hollenbeck, uma das mais relevantes e significativas big bands no jazz de hoje. Para além de toda os temas escritos (e arranjados) por Argue terem uma razão de ser e de existir, seja ela um manifesto social ou político, uma lenda ou um facto histórico, ou mesmo um motivo de caráter mais filosófico, o mais importante é que toda a música desta orquestra é, em termos de composição e arranjo, do mais elevado nível, umas vezes mais dramática, outras vezes mais lírica, outras mais épica, mas sempre intrigante e extremamente impactante. É verdade que a orquestra de Maria Schneider apresenta nas suas fileiras vários solistas de dimensão superior à de qualquer solista da de Darcy James Argue, mas esta orquestra acaba por se distinguir exatamente pelo facto de os solos surgirem como parte integrante da música de Argue e não como mera improvisação por cima dos seus arranjos, outro aspeto que contribui para que, principalmente ao vivo, seja absolutamente impossível ficar indiferente a esta música. E, como se tudo o que foi já dito não bastasse, a elegância e a atenção ao detalhe com que o maestro dirige a sua orquestra é, em si só, um ato visual de sobejo interesse. Uma palavra final de grande apreço para Matt Clohesy, o músico que, para estes ouvidos, mais se destacou em toda a orquestra; tanto no contrabaixo como no baixo elétrico, Clohesy é um músico do outro mundo! Alegadamente por problemas de ordem pessoal, a cantora Jazzmeia Horn cancelou, com apenas 48 horas de antecedência, a sua atuação no Angrajazz, um “berbicacho” que a eficácia da equipa de produção do festival soube contornar atempadamente. A tempo e horas, a cantora e guitarrista chilena Camila Meza aterrou na Terceira para um concerto de encerramento do festival que, não ficando para a história como o de Jazzmeia Horn poderia eventualmente ter ficado, nos ofereceu belíssimos momentos de jazz – a própria Camila Meza é uma excelente guitarrista de jazz – alternados com outros mais próximos da boa canção latina e, como tal, menos adequados a um festival de jazz desta envergadura. “Caminhos Cruzados” ou “Cucurrucucú Paloma” funcionaram muito melhor do que o tema de Vitor Jara, que Camila cantou acompanhada apenas pelo seu violão. No extremo diametralmente oposto, uma leitura muito pessoal do standard “No Moon At All” acabou por constituir, não por acaso, o momento mais elevado e entusiasmante de todo o concerto. Queria, finalmente, fazer referência a alguns dos momentos de “Jazz na Rua” desta edição do Angrajazz a que me foi possível assistir. Um deles foi uma jam session bem ancorada pelo Sara Miguel Quarteto, muito participada por membros das orquestras do Hot Clube e Angrajazz. Os outros foram da responsabilidade do LC Collective (Luís Cunha, César Cardoso, Óscar Graça, Diogo Alexis e Pedro Felgar), um na Biblioteca Pública e outro no Alto da Sé Café. Com um interessante repertório de standards e clássicos do jazz (e sem grandes repetições de repertório entre os dois dias), o quinteto revelou a todo o momento um elevado nível de interpretação, uma bonita coesão e, tema após tema, interessantíssimos solos por todo os membros do coletivo. Sem dúvida, dois dos concertos do festival a que muito valeu a pena ter assistido. (Paulo Barbosa esteve no Angra Jazz a convite do festival) |
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Qua 3 | Angra do Heroísmo | Centro Cultural e de Congressos | 21.30 | Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal «A música de António Pinho Vargas» |
Luis Cunha (dir), Pedro Nobre (produção), Daniel Vieira (sa, ss), João Mortágua (sa, cl, f), César Cardoso (st, cl, f), Mateja Dolsak (st, cl, f), Paulo Gaspar (sb, clb), Lars Arens (trb), André Ribeiro (trb), André Conde (trb), Rui Bandeira (trb), Ricardo Carvalho (t), Johannes Krieger (t), Gonçalo Marques (t), Tomás Pimentel (t), Nuno Costa (g), Óscar Graça (p), Diogo Alexis (ctb), Pedro Felgar (bat) |
Angra do Heroísmo | Blues Bar | 23.30 | jam session | Sara Miguel Quarteto | |
Qui 4 | Angra do Heroísmo | Biblioteca Luis da Silva Ribeiro | 18.00 | LC Collective | Luís Cunha (t), César Cardoso (st), Óscar Graça (p), Diogo Aléxis (ctb), Pedro Felgar (bat) |
Angra do Heroísmo | Centro Cultural e de Congressos | 21.30 | Orquestra Angra Jazz | Pedro Moreira (dir), Claus Nymark (dir), Sara Miguel (voz), Davide Corvelo (sa), Filipe Gil (sa), Rui Borba (sa), Rui Melo (st), Mauro Lourenço (st), José P. Pires (sb), Márcio Cota (t), Paulo Borges (t), Bráulio Brito (t), Roberto Rosa (t), Rodrigo Lucas (trb), Mário Melo (trb), Manuel Almeida (trb), Edgar Marques (trom), Antonella Barletta (p), Nivaldo Sousa (g), Paulo Cunha (ctb), Nuno Pinheiro (bat) | |
Gonzalo Rubalcaba Trio | Gonzalo Rubalcaba (p), Armando Gola (ctb), Ludwig Afonso (bat) | ||||
Sex 5 | Angra do Heroísmo | Expert | 18.00 | LC Collective | Luís Cunha (t), César Cardoso (st), Óscar Graça (p), Diogo Aléxis (ctb), Pedro Felgar (bat) |
Angra do Heroísmo | Centro Cultural e de Congressos | 21.30 | Andy Sheppard Quartet | Andy Sheppart (s), Michel Benita (ctb), Sebastian Rochford (bat), Marco Tindiglia (g) | |
Billy Childs Quartet | Billy Childs (p), Steve Wilson (s), Alexander Boneham (ctb), Christian Euman (bat) | ||||
Sáb 6 | Angra do Heroísmo | Alto da Sé Café | 18.00 | LC Collective | Luís Cunha (t), César Cardoso (st), Óscar Graça (p), Diogo Aléxis (ctb), Pedro Felgar (bat) |
Angra do Heroísmo | Centro Cultural e de Congressos | 21.30 | Darcy James Argue's Secret Society | Darcy James Argue (dir), Vernil Rogers (tecn. som), Dave Prieto (sopros), Alexa Tarantino (sopros), Sam Sadigursky (sopros), María Grand (sopros), Carl Maraghi (sopros), Nick Marchione (t), Sam Hoyt (t), Matt Holman (t), Nadje Noordhius (t), David Smith (t), Mike Fahie (trb), Ryan Keberle (trb), Kalia Vandever (trb), Jeff Nelson (trb), Sebastien Noelle (g), Adam Birnbaum (p), Matt Clohesy (b), Jon Wikan (bat) | |
Jazzmeia Horn | Jazzmeia Horn (voz), Victor Gould (p), Barry Stephenson (ctb), Henry Conerway III (bat), Marcus Miller (s) |